Morto na noite do último domingo (24) em casa, o jornalista de Santo Antônio do Descoberto (GO) João Miranda do Carmo, de 54 anos, já havia sido ameaçado diversas vezes, segundo familiares e amigos. Na delegacia do município do Entorno de Brasília há um registro de ameaça feito em fevereiro deste ano, mas uma falha no sistema impediu o acesso a detalhes.
Carmo era conhecido na cidade por fazer denúncias de cunho político no site de notícias SAD Sem Censura, além de noticiar fatos ligados a tráfico de drogas e homicídios no município. A esposa do profissional, Orlene Ribeiro dos Santos, conta que o marido trabalhava com reciclagem, mas paralelamente denunciava e criticava o que via de errado na cidade. Ele criou o site em 2013.
De acordo com Orlene, João Miranda do Carmo vinha sendo ameaçado, mas não revelava o motivo nem quem o ameaçava. Desde a última ameaça, ocorrida na semana passada, o homem estava mais assustado. Orlene lembra que no final de 2014 atearam fogo ao carro do jornalista e o responsável nunca foi identificado.
Cândida Miranda, uma das irmãs da vítima, confirma que Carmo era ameaçado constantemente. Ele era filiado ao PCdoB e pretendia ser candidato a vereador em Santo Antônio do Descoberto. O jornalista nasceu em Goianésia, onde foi enterrado ontem.
Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Goiás lamentaram o crime e pediram a punição dos responsáveis. Já a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) informou que as investigações sobre o crime começaram ainda no domingo.
Carro vermelho
O jornalista João Miranda do Carmo, morto em casa, em Santo Antônio do Descoberto, no domingo, foi alvejado sete vezes. A informação consta no boletim de ocorrência policial. De acordo com Cândida Miranda, irmã dele, o portão da casa foi arrombado e assim que a vítima saiu de casa para ver do que se tratava, foi atingido pelos disparos.
A esposa do jornalista, Orlene Ribeiro dos Santos, conta que no momento do crime estava na casa de uma vizinha e chegou a ouvir os tiros. Uma testemunha que não quer se identificar relata ter visto um homem saindo da casa do jornalista e entrando em um carro vermelho.
Profissão de risco
Esse foi o terceiro assassinato de jornalistas este ano no Brasil. Em março, o radialista João Valdecir Barbosa foi morto a tiros enquanto trabalhava nos estúdios da Rádio Difusora AM, em São Jorge do Oeste, sudoeste do Paraná. Em abril, o blogueiro Manoel Messias Pereira, foi morto também a tiros em Grajaú, no Maranhão.
Em 2015, o Brasil ficou em quinto lugar como o país mais perigoso para o exercício da atividade jornalística, com oito assassinatos, de acordo com a organização internacional Comitê para a Proteção dos Jornalistas, (CJP, na sigla em inglês). O país ficou à frente de países em guerra como Iraque e Sudão do Sul. A maior parte das pessoas assassinadas apurava casos de corrupção envolvendo políticos.
Fonte: O Popular